Pesquisa: O universo da economia dos criadores no Brasil

Um mercado novo e em crescimento no Brasil e no mundo

O uso da internet como ferramenta de negócios ajudou a desenvolver uma nova classe de profissionais: os criadores de conteúdo. Eles são, basicamente, profissionais liberais que usam das ferramentas digitais para criar e divulgar seus produtos e serviços.

O cenário de instabilidade econômica no Brasil, somado à pandemia, contribuíram muito para o crescimento da Economia dos Criadores em nosso país, criar conteúdo se tornou uma saída necessária para encontrar formas alternativas de trabalho e monetização do negócio próprio no digital.

Informações da Serasa Experian dão conta de que sete em cada dez micro, pequenas ou médias empresas (73,4%) do país estavam fazendo vendas online durante a pandemia do novo coronavírus e, desse total, 83,1% pretendia manter a realização dos negócios pela internet mesmo quando a pandemia acabasse.

A questão é que, enquanto alguns influenciadores costumam monetizar fazendo divulgação de produtos e serviços que não são sua criação com base em sua autoridade online, a maioria dos criadores de conteúdo ainda é composta por profissionais que precisam e querem viver da sua própria criação.

E muitos ainda não têm condições disso: dados da Atlantico coletados de mais de cinco mil criadores de conteúdo no Brasil indicam que metade desses ganhavam menos de US$ 100 por mês com a produção de conteúdo, e cerca de 25% deles sequer conseguiam monetizar nos Estados Unidos.

Segundo texto da Harvard Business Review, no Patreon, apenas 2% dos criadores conseguiram alcançar o salário mínimo (dos EUA) de US$ 1.160 por mês em 2017. No Spotify, artistas precisam de 3,5 milhões de streams por ano para atingir ganhos anuais equivalentes aos de um trabalhador com salário mínimo de US$ 15.080.

Mesmo assim, continua crescendo o alcance do mercado: um a cada três usuários de internet em nosso país segue algum influenciador. No Brasil, 40% dos entrevistados afirmam ter comprado algum produto que foi recomendado por algum criador de conteúdo. E esses criadores estão ávidos procurando novas formas de monetizar na internet.

Ou seja: temos muitos desafios pela frente, mas esperança também.

O propósito desta pesquisa

Entender para ajudar

Saber os principais desafios, quem os vive e os anseios de quem cria conteúdo no Brasil para desenvolver soluções alinhadas ao novo mercado.

Compartilhar para cocriar o futuro com os criadores

Esta poderia ser uma pesquisa fechada, mas decidi abrir a todos porque acreditamos na competência criativa do nosso mercado para questionar, experimentar e melhorar o cenário dos criadores no Brasil.

Metodologia

Coletamos respostas de 572 criadores via formulário no typeform, com 21 perguntas para entender a demografia, quais são as relações de trabalho mais comuns, as razões de ter escolhido criar conteúdo e como monetizam seus talentos.

O universo total de criadores do Brasil usado como base foi de 7 milhões, revelado pela pesquisa da Statista com a Influencity

Tamanho da população: 7 milhões
Tamanho da amostra: 572
Grau de confiança: 99%
Margem de erro: 5,39%

A divulgação do formulário foi feita via newsletter do criador Tiago Henriques, do Tira do Papel, das redes sociais da criadora Rafaela Vidal e do Lucas Morello, do Bota na Rua.

A pesquisa foi desenvolvida e executada pelo Bota na Rua, tendo como responsável: eu, Lucas Morello.


Uma geração que escolheu trabalhar com o que ama

Apesar das adversidades econômicas no Brasil, que leva uma parte dos criadores a trabalhar por necessidade, a maioria carrega motivações internas para escolher essa carreira.

51,78% dos criadores tem como motivações principais, para trabalhar por conta própria, a independência, trabalhar com o que ama e ter mais tempo para a vida pessoal

Os criadores se planejam para viver do que amam

Os criadores encontraram na criação de conteúdo uma forma de ter independência, trabalhar com o que ama, ter mais tempo e não querem parar por aí. A maioria planeja ter todos os seus ganhos financeiros vindos do próprio negócio.

39,34% planejam ter todos os seus ganhos financeiros vindos da própria empresa, de forma profissional, e 26,22% deseja, mas ainda não sabe como fazer.

Quem faz parte dessa geração

A maioria dos criadores fazem parte da Geração Y e da Geração Z, que não tem como objetivo de vida principal a estabilidade e sim, experimentar o mundo. Essas gerações já estão mais acostumadas com a velocidade das redes sociais, são mais críticos aos métodos conservadores e estão buscando construir a carreira de um jeito diferente das gerações passadas.

84% dos criadores está na faixa de 20 a 40 anos

85,31% não são criadores, são criadoras que se identificam com o gênero feminino.

As mulheres empreendedoras já somam mais de 30 milhões no Brasil, 57% do total de empreendedores em nosso país. Se analisarmos apenas as MEIs (microempreendedoras individuais) a representação feminina é de 48% (Global Entrepreneurship Monitor 2020).

As mulheres também estão mais conectadas. Segundo o Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV 2020), 71% das mulheres usaram e ainda usam redes sociais, aplicativos e a internet para comercializar seus produtos e serviços, enquanto 63% dos homens usaram e usam essas ferramentas.

Mesmo sendo um país com uma grande representatividade feminina no empreendedorismo, em 2020, 55% das mulheres brasileiras (Global Entrepreneurship Monitor 2020) decidiram iniciar seus próprios negócios por necessidade de obter renda.

76,75% dos criadores, que responderam a pesquisa, estão concentrados em 8 estados do Brasil e 3,87% trabalham com criação para o Brasil morando no exterior.

67,66% dos criadores vivem nas capitais ou regiões metropolitanas.

Qual é o regime de trabalho dos criadores

Não existe um plano de carreira definido se você pretende viver de criar conteúdo.

Os criadores podem empreender por conta própria, trabalhar em uma empresa e ter um projeto paralelo online, seja para conseguir mais prestígio na própria carreira, criar algo diferente ou por prazer.

É possível ser freelancer e ter várias fontes de renda trabalhando em projetos diferentes, ou um profissional autônomo que faz consultas odontológicas em sua cidade.

48,95% são donos do próprio negócio e se identificam como empresário, 36,71% é freelancer e 14,16% mantém uma rotina dupla entre o CLT e projetos pontuais

57,24% do criadores ganham entre R$1.000 e R$5.000 por mês

O desejo é ganhar mais

60,53% dos criadores gostariam de ganhar entre R$5.000 e R$20.000 por mês e 18,07% mais do que R$20.000

67,13% não consegue monetizar com a criação de conteúdo e a audiência própria

57,7% monetizam vendendo consultorias ou mentorias (21%), as horas de trabalho como serviço (18%) ou vendendo cursos online (17,9%)

76,33% dos criadores conseguem clientes através das redes sociais por (35,4%) indicação de clientes e (20,58%) criação de relacionamento online e offline.

A melhor forma para mostrar o trabalho é criar conteúdo

93,62% acredita que a melhor forma de atrair clientes e se tornar referência na sua área de atuação é com a criação de conteúdo

Os maiores desafios na jornada do criador

59% sentem dificuldade em monetizar como criador por falta de conhecimento (24,27%), ter que fazer tudo sozinho (19,47%) e ter dificuldades com a produção de conteúdo (15,65%).

Conclusão

Se quereremos construir um futuro melhor para os criadores de conteúdo é importante caminharmos para direção sustentável que aumente a rentabilidade dos negócios criativos para que seja possível os criadores desfrutarem das suas principais motivações para começar a monetizar os seus talentos:

  1. Ter independência
  2. Trabalhar com o que ama
  3. Ter mais tempo para usar como quiser